ANÍSIA BEZERRA


FRAGMENTOS DA VIDA DE UMA ESTRELA!

 

 Diante de tuas fotos e lembranças me debruço
 e navego na história de tua vida!


Mudaste deste plano terreno, mas deixaste a impregnação de teus gestos e ações, permeados de bondade, amor, ternura, compreensão e caridade...
Foste a primeira filha de Juvêncio Bezerra e de Maria Alaíde de Farias, cujos nomes estão nos anais do tempo como benfeitores da história de Itapetim. Em seguida vieram Adalva, Júnia e Judite complementando a família.

Nossos antepassados guardaram no baú sagrado de suas memórias, e passaram para seus familiares esse reconhecimento e gratidão por madrinha Maria, a eterna artista de Itapetim. Seu Juvêncio, um comerciante culto e sábio, fonte de informações culturais entre o Recife e Itapetim. Como conhecedor profundo da flora regional era "doutor" em homeopatia, atendendo gratuitamente a quem o procurava. Estendeu sua amizade e serviços a toda família de Madrinha Maria, onde se tornou o orientador e solucionador dos problemas.

Assim também foste tu, Anísia, à semelhança do teu pai. Foste a primeira professora, pedagogicamente falando. Como filha de Itapetim - uma cidade que à época não tinha colégios - para galgar conhecimentos, tiveste que subir e descer a Serra do Teixeira no lombo de cavalos, em busca de estudos “nos Patos das Espinharas” (assim falava o povo da região, referindo-se a vizinha Cidade de Patos, no estado da Paraíba).

Em 1956, tu estavas linda e exuberante, em plena juventude, na galeria de fotos das formandas do magistério do Colégio Cristo Rei.
Após a tua formatura, em complemento as tuas realizações, casaste com o jovem Jaime Leite Wanderlei.


Quando foste nomeada para lecionar em Itapetim, tua cidade natal, onde havia carência de professores, o coração da tua família e dos teus conterrâneos vibraram de contentamento. A felicidade foi geral.
Com o casamento vieram os filhos: Osmundo, Álvaro, Alberto e Osmilda.
Jaime trabalhava no Cartório Eleitoral em Patos-PB e tu, por força do cargo de professora em Itapetim, te dividias entre as duas cidades.

Naquela época, mudança no cenário político punha em risco o destino das pessoas. Elas poderiam ser transferidas, até mesmo as que exerciam cargos no magistério, em detrimento de crianças que estavam matriculadas. Contigo não foi diferente, Anísia, foste transferida para a Cidade de Flores, também situada no Sertão pernambucano, que de Flores só tinha o nome. Foram penalizados teus alunos, e teus filhos privados de tua companhia e orientação. Ambos ficavam vários dias afastados dos filhos, que permaneciam com os avós e tias em Itapetim. Vocês passaram a ter duas residências, por causa disto tinham que se locomover todos os finais de semana para estarem em família.

Foi de seu pai, Seu Juvêncio, que nasceu a sugestão de que seus dois filhos mais velhos, Osmundo e Álvaro que estavam em idade escolar, deveriam ficar em Patos na companhia do pai e da avó paterna, Dona Nanú. Mas para isto era necessário que alguém ajudasse nas lides da família, uma vez que Dona Nanú era bastante idosa, por isso seria muito cansativo cuidar sozinha daquelas crianças. Foi aí que entrei na história da vida dessa grande mestra! Seu Juvêncio, um homem de visão larga, sabia do meu desejo de estudar e da falta de condições financeiras, então fui convidada para acompanhar as crianças e ajudar àquela vozinha cheia de boa vontade, mas limitada pela idade avançada a fazer tudo sozinha. E foi quando tive a oportunidade de continuar meus estudos. Durante o dia fazia o que era necessário, para colaborar com a família e, à noite, freqüentava o colégio.
Sei que não foi fácil para ti, Anísia, vir a Patos a cada 15 dias e esperar as férias para passar ao lado dos filhos e do marido. Sempre estavas em três lugares, sempre em trânsito, o que causava muito sofrimento, mas ninguém ouvia de ti reclamação alguma. Além das preocupações com os dos filhos que estavam em Patos, com os que estavam em Itapetim, ainda te preocupavas comigo!

Foi nesse vai e vem da vida que percebi o imenso farol de luz que tu eras. Um ser humano diferente, e que os valores morais, a educação e a bondade de teus pais faziam parte de tua genética.

Tua filosofia de vida era hereditária. A paciência, a arte, e a humildade vieram de tua mãe. A sede de informar, ensinar, abrir clareiras, servir e acolher, eram características que trazias do teu pai. Por teres nascido neste berço de tanta riqueza de valores morais, culturais e religiosos, é que te tornaste modelo de mãe extremosa, mestra autêntica e esposa dedicada.

Guardamos na memória esse testemunho de vida, vida de abnegação, de paciência, de humildade, de ternura, de sensatez, de harmonia e de equilíbrio, recheado de um sorriso fácil, mesmo em meio as adversidades. Era um sorriso largo, franco e acolhedor. Onde quer que estivesses, tinhas sempre nos lábios uma palavra de apoio, um gesto de ternura, uma forma de ajudar que só tu mesmo eras capaz de descobrir.

Além de mãe, esposa, educadora, amiga, foste dotada de muitas aptidões, as quais desenvolvias muito bem, ora como poetisa, ora como escritora, ou mesmo pintora, enfim, artista de alma e de coração, é o que tu foste!

Ao sentir tanto a tua falta eu te pergunto:

- Onde estás, agora que vives no mundo espiritual? Na pátria celeste, no céu! Eu sei que é aí que tu estás. Estarás em contato com aqueles entes queridos que te precederam ? Tenho certeza de que a vida continua em outros planos e que tua busca incessante também.
Passastes feliz, porque eras feliz. Os sofrimentos e desencontros da vida terrena, para ti nunca foram obstáculos, foram, sim, oportunidades de vencer, crescer, buscar e aprender.

Aqui rendo essa homenagem a ti amiga, prima e mestra querida! Inclino-me e beijo tuas mãos num ato sincero de gratidão, todo dia, todo tempo, toda hora, é sempre hora de te dizer: Muito obrigada! Terás minha eterna gratidão por tudo que aprendi contigo. Pelos valores morais e espirituais, pela filosofia de vida, baseada na compreensão, no amor incondicional e na arte de perdoar.
Um dia nos reencontraremos e te renderei, mais uma vez, a homenagem que sempre serás merecedora.

Carlinda Nunes de Brito

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