quinta-feira, 20 de outubro de 2011

EM CRISTO ENCONTREI ALENTO



Antes de ser a fiel companheira, a esposa dedicada, a mamãe extremosa e a vovó carinhosa que hoje sou,  vivi outros amores e através dos quais encontrei respostas e soluções para problemas e dilemas que enfrentei ao longo das várias fases da minha vida.

A história de hoje, das muitas histórias que vou contar, é a que mais me emociona, por se tratar de uma decepção amorosa que me levou ao misticismo e a busca de algo muito mais profundo, aprendendo a fazer renúncias sempre que a minha felicidade pudesse desaguar na infelicidade dos que me rodeiam.
É impossível ser feliz sozinho, diz a canção, e foi movida por esse princípio que, por duas vezes,  recuei e abdiquei  das minhas escolhas, para salvaguardar a possibilidade de ser feliz com todos.

05-João Gilberto-Wave (Vou Te Contar)


Confesso que não foi fácil, mas o importante é que foi possível. Espero que a minha história possa ajudar outras pessoas que, por algum motivo, se vejam em situações semelhantes, e que tenham que tomar decisões importantes como as que tomei ao longo da minha caminhada.

Eu era uma adolescente comum, igual a todas da minha época, mas já sentia nas veias o sangue da poesia e talvez por causa disto encantei-me com um poeta, um boêmio, um trovador, e a ele dediquei a mais pura e a mais sincera paixão da minha adolescência.

Era ainda uma menina, pois só tinha quinze anos, nascida e criada na zona rural numa época em que a educação sexual inexistia para a nossa faixa etária, tudo que sabíamos era fruto do instinto e da própria natureza que se encarregava dos impulsos decorrentes da revolução hormonal.

Meus 15 anos

E foi na troca de versos que vi minha paixão crescer, só que os meus eram pra ele, mas os dele eram pra todas e eu pensava que eram só pra mim. Certo dia escrevi para ele e ele me respondeu, em forma de versos também.

O amor é um vocábulo
De magnética atração
Nasce às vezes de um olhar
Une-se com a paixão
Só Deus do céu dá um jeito
Mas gente da terra, não

 (De Carlinda Nunes, para Jó Patriota, há mais de 50 anos atrás)

És tu querida Carlinda
Minha Jovem dileta
Tu és linda eu sou poeta
Eu sou poeta tu és linda
E o teu sorriso brinda
A voz de um sonhador
Sou teu admirador
Te tenho grande amizade
Na voz da minha saudade
Mando-te um beijo de amor

(De Jó Patriota, para Carlinda)

Era ele, sim, o Jó,  o meu poeta, a minha paixão. Em 1987, mais de 20 anos depois, Jó gravou um vídeo, juntamente com outro grande poeta, Cícero Bernardes, onde declamou versos enaltecendo o amor de mãe, mas, ao ouvi-los,  se eu voltasse pelo túnel do tempo, novamente a minha inocência de menina, juraria que eram dedicados a mim.





Quando rabisquei o meu pretenso livro "Uma História de muitas histórias" fiz o relato em rimas sobre a minha entrada no convento, deixando de ser Carlinda para ser a Irmã Sulamita, e assim eu discorri:

Como toda adolescente
Em tudo eu era igual
Às vezes irreverente
Outras cheias de ideal
Gostava de passear
E muito mais de dançar
Aos quinze anos queria
Conquistar a independência
E não tinha paciência
De aguardar esse dia

Gostava muito de ler
E também de analisar
Os fatos para saber
Discutir e contestar
Gostava de poesia
Versos de feira eu lia
Cordel e literatura
Lia até dicionário
Almanaque e anuário
Na busca de mais cultura

Um personagem importante
Motivou-me a adolescência
Uma pessoa brilhante
E de grande inteligência
O qual foi JÓ PATRIOTA
Aqui merece uma nota
Envolvendo só a  mim
Ele não sabia, enfim
Deste amor sua extensão

Ele um boêmino afamado
Com a viola na mão
Era muito procurado
Pelas jovens da região
Saudava a todas elas
Com frases muito singelas
Improvisava um poema
deste que encanta a alma
Mas depois pedia calma
Deixando as vitimas em dilema

Sonhadora, adolescente
Não deixei de cair nessa
De maneira diferente
Interpretei a conversa
Jó cantava alegremente
Era um mito feito gente
Mui simpático e cavalheiro
Soube disse e me escreveu
Algo que me comoveu
Pelo seu tom verdadeiro

Não pensava em casamento
Vivia para cantar
Tinha outro pensamento
 E não podia me dar
Aquela felicidade
E diante esta verdade
Eu procurei aceitar
E resolvi abrir mão
Pôr fim nesta questão
Novo sonho recomeçar

E sem ser correspondida
Comecei a procurar
uma outra forma de vida
Algo maior abraçar
Quando alguém me segredou
Que já de outro escutou
E me falou com carinho
Sabendo que eu sofreria
Mas o Jó se casaria
Com a Dasneves Marinho

Foi um impulso a mais
Na minha resolução
Me veio um súbito de paz
Digo até de elevação
Senti-me livre de lei
Do grande amor que jurei
E pelos dois fui rezar
Neste sentimento  misto
Resolvi doar-me a Cristo
E para o convento entrar

Dasneves era um talento
Verdadeira alegria
Um perfeito casamento
Se dava na poesia
Deus tem lá suas razões
Também suas provações
Eu encontrei no convento
A razão do meu viver
Não tinha porque sofrer
Em Cristo encontrei alento

Meus pais não se agradaram
Dessa idéia de convento
E até se opuseram
Mas deram consentimento
Pois eu sempre quis sair
Outras coisas decobrir
Eu tinha que aprofundar
E também compreender
Melhor a Deus conhecer
E meu espírito elevar

Eu gostava de viver
E de nada tinha medo
Queria tudo entender
E comecei muito cedo
Com desejo de mudar
Minha vida transformar
E nos estudos buscar
De Itapetim ir além
Ser útil a mais alguém
Talvez um dia voltar

Essa ida pro convento
Parecia uma aventura
Mas o meu pensamento
Repousava na ternura
Não via nisto mistério
E levava a vida a sério
Queria mesmo ir a fundo
Meu pai me fazia medo
Dizia ser um degredo
O outro lado do mundo

Eu não podia ficar
Na minha querida roça
O jeito era deixar
Minha terra, minha choça
Tinha mais que procurar
Algo para acreditar
Só o Cristo era real
Só Ele era infinito
Para mim não era mito
Nascia meu ideal

Para poder decidir
Passei um ano pensando
Me exercitei no servir
Com a prima Anísia morando
Da casa dela cuidando
E à noite estudando
Cinco horas levantava
Para a missa da matriz
E lá em Patos eu fiz
A opção que sonhava

Depois eu fiquei interna
No Colégio Cristo Rei
E de aluna moderna
Não me diferenciei
Mostrei um bom desempenho
Orgulho que ainda tenho
As Irmãs me observando
Pra ver se eu tinha talento
Para a vida do convento
Que eu estava experimentando

Era muito bem tratada
E a tudo correspondia
No final fui aprovada
E já esperava o dia
De passar pela triagem
E depois seguir viagem
Teria que me encontrar
Com a Madre Provincial
Pra receber o sinal
Se poderia ingressar

Abri meu coração
Contei toda minha história
Quando esperava um "não"
Daquela alma notória
Que atentamente escutou
Para mim assim falou:
- Você vai para Natal
Continuar estudando
Devagar analisando
Se é este seu ideal

E em Natal eu fiquei
Com a mestra do Juvenato
Logo me adaptei
Àquele pensionato
Onde as jovens que chegavam
As vestes comuns trocavam
E naquele ambiente
De trabalho e oração
Sob a orientação
De uma alma inteligente ...


Para o amigo e primo Jó Patriota (in memoriam), minha homenagem com um dos seus mais belos versos:

PASSA TUDO NA VIDA, TUDO PASSA,
MAS NEM TUDO QUE PASSA A GENTE ESQUECE


Passa o dia por mês e mês por ano
Passa ano por era, era por fase
Nessa fase tão triste eu vejo a base
Do destino passar de plano em plano
Com a mão da saudade o desengano
Passa dando um adeus fazendo um S
Vem a mágoa o prazer desaparece
Quando chega a velhice, foge a graça,
Passa tudo na vida, tudo passa,
Mas nem tudo que passa a gente esquece.

Jó Patriota 

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Um comentário:

Amiraldo Patriota disse...

Gostei muito do que vi. E também, do que lí. Carlinda Nunes é impa, Carlinda é sinônimo de amor...